- Raça Barrosã
- Origem e História
- Área de Dispersão
- Morfologia
- Efetivos
- Características Produtivas
- Características Reprodutivas
- Modo de Exploração
- Produtos e Certificação
- Historial
RAÇA BARROSÃ
A raça Barrosã distingue-se das outras pela sua armadura considerável, que se projecta quase verticalmente e em forma de lira, assim como pelas suas formas harmoniosas e a carne de características organolépticas inigualáveis.
Embora deva o seu nome ao planalto do Barroso, iniciou a sua expansão no Minho, onde quase substituiu a Galega, chegando mesmo a povoar concelhos como a Maia e o Porto.
Estamos perante uma raça de dupla aptidão, trabalho e carne, tendo esta última sem dúvida um futuro mais promissor, com a comercialização da “Carne Barrosã” – DOP, como produto certificado.
Insere-se principalmente em duas áreas geográficas: Minho e Barroso. Pode dizer-se que estamos perante um animal perfeitamente adaptado a zonas de agricultura de montanha, onde desempenha um papel importante, permitindo trabalhar as pequeníssimas leiras, fazer a fertilização das mesmas com o estrume e valorizar os recursos alimentares naturais disponíveis que de outra forma seriam desperdiçados.
ORIGEM E HISTÓRIA
A raça Barrosã terá tido a sua origem à cerca de 10.000 anos, com a domesticação do Auroque (Bos primigenius), em pleno neolítico. Depois através das várias rotas migratórias dos povos norte-africanos, terá chegado à Península Ibérica. Desta forma a raça poderia ser incluída no tronco mauritâneo, tendo como ancestral Bos primigenius mauritanicus (Garcia et al., 1981). Pode-se admitir que este grupo de animais se instalou na Península Ibérica, provavelmente aquando da ocupação Moura. Numa fase posterior, a raça Barrosã terá sido desalojada pelos troncos ibérico e aquitânico, ficando um pequeno núcleo nas zonas planálticas do Barroso, onde ainda hoje permanecem.
A peculiaridade dos aspectos morfológicos e histórico-evolutivos, tornam ainda hoje difícil o enquadramento desta raça com as restantes raças bovinas ibéricas, sendo por isso necessária a realização de mais trabalhos e investigação, que permitam um melhor conhecimento das características genéticas da raça.
Os animais da raça Barrosã, encontram-se essencialmente em duas áreas geográficas: Minho e Barroso. O Minho caracteriza-se pela sua constituição granítica, com vales profundos que delimitam as serras, em que se passa de vertentes acentuadas para planos bem desenvolvidos e largos, aumentando de altitude do litoral para o interior. Já o Barroso apresenta constituição granítico-xistosa, caracterizando-se por ser uma região montanhosa e planáltica.
A origem desta raça perde-se nos tempos sendo o seu solar, o Barroso, constituído: pelos concelhos de Montalegre e Boticas, pelas freguesias de Campos e Ruivães de Vieira do Minho e pela freguesia de Gondiães de Cabeceiras de Basto, chegando mesmo a ocupar concelhos do litoral norte até ao Porto.
Actualmente, verifica-se que os limites da Barrosã estendem-se pelos concelhos de Montalegre e Boticas, do distrito de Vila Real; pelos concelhos de Amares, Braga, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Fafe, Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira do Minho e Vila Verde, do distrito de Braga; pelos concelhos de Arcos d Valdevez, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima e Valença, do distrito de Viana do Castelo; e pelos concelhos de Felgueiras e Paços de Ferreira, do distrito do Porto.
DESCRIÇÃO DA RAÇA
A raça Barrosã caracteriza-se pelo seu temperamento dócil, terço anterior bem desenvolvido, o que lhe confere boa aptidão para o trabalho. Apresenta dimorfismo sexual acentuado, podendo observar-se a imponente armação córnea nos machos castrados, que pode atingir mais de dois metros de envergadura, e nos machos inteiros destaca-se o terço anterior mais escuro.
São animais de pelagem castanho-claro, tendendo para a cor de palha ou acerejado. Apresentam cor mais clara na região das pálpebras, orla envolvente do focinho, face interna dos membros e região mamária.
Actualmente é explorada nas aptidões de carne e trabalho, destacando-se a carne pela comercialização da “Carne Barrosã”, como produto com denominação de origem protegida (DOP).
Cabeça: curta e larga, encimada por forte armação córnea em lira. Fronte quadrada, deprimida ao centro com região orbitária bastante saliente. Chanfro direito, arredondado e pouco saliente, boca larga, de lábio superior desenvolvido.
Focinho largo, um pouco grosso e arrebitado, de cor negra. Possui orla clara. Conjunto ocular saliente, pestanas e abertura palpebral escuras.
Orelhas médias, rodeadas de pêlos geralmente escuros e no interior compridos. Comprimento e espessura dos chifres bem desenvolvidos, de cor branco-sujo e pontas escuras de secção elíptica.
Pescoço: curto, bem ligado à cabeça e à espádua. Barbela muito desenvolvida.
Tronco: cernelha larga e pouco saliente, costado bem arqueado, peito largo e descido. Região dorso-lombar larga e horizontal, de comprimento médio, bem ligada à garupa, sendo esta horizontal, larga e comprida, com boa largura isquiática. Nádegas sub-convexas, descidas e largas. Coxas bem musculadas e regularmente largas. Cauda com inserção média, terminada por regular borla de pêlos escuros.
Úbere: pouco desenvolvido, revestido por pêlos mais claros espessos e compridos.
Membros: bem aprumados pouco ossudos e curtos. Apresentam unhas pequenas, rijas, escuras e arredondadas.
Pele, pêlo e mucosas: pele grossa mas macia, apresentando rugas no pescoço. Pêlos muito curtos e finos, mais desenvolvidos no pavilhão auricular e na borla da cauda. Mucosas escuras.
EFECTIVOS
O efectivo da raça Barrosã sofreu um forte declínio até à década de noventa, contribuindo para tal evolução factores como êxodo das populações rurais, o abandono das explorações agrícolas, a mecanização da agricultura existente, a introdução de novas culturas e a substituição da Barrosã por raças de aptidão leiteira.
Segundo Silvestre Bernardo Lima em1873, o efectivo era de 102.301 machos e de 144.501 fêmeas, tendo-se verificado uma diminuição abrupta havendo um efectivo de fêmeas não superior a 7000 animais e no caso dos machos o número é insignificante.
Actualmente verifica-se alguma estabilização dos efectivos, devido a apoios vindos do estado e da comunidade europeia como as medidas Agro-Ambientais, indemnizações compensatórias e prémios às vacas aleitantes.
CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS
A raça Barrosã é um animal de dupla aptidão: trabalho e carne. A aptidão carne atualmente crê-se ser a que tem maior viabilidade devido à certificação da “Carne Barrosã”, como produto de denominação de origem protegida (DOP).
Produção de Carne: actualmente é sem dúvida a aptidão com maior futuro, devido à certificação da carne como produto com denominação de origem protegida (DOP).
Peso médio ao nascimento | 26,58 Kg |
Idade normal de abate | 6 a 8 meses |
Peso de abate | 184 Kg (machos) 169 Kg (fêmeas) |
Peso de carcaças aos 207 dias | 94 Kg (machos) |
Peso de carcaças aos 211 dias | 85 Kg (fêmeas) |
Fonte: Catálogo de Raças Autóctones de Castela e Leão (Espanha) – Região Norte de Portugal – I. Espécies bovina e equina
Produção de leite: não tem qualquer expressão nesta raça, servindo apenas para alimentação das crias.
CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS
Na raça Barrosã o método de cobrição natural ainda é o sistema mais utilizado, embora a inseminação artificial tenha vindo a aumentar.
A Raça Barrosã caracteriza-se por ter grande longevidade reprodutiva, em média 7,6 anos, conduzindo a uma reduzida taxa de substituição (aproximadamente 10% ao ano). Regra geral não apresenta elevada incidência de partos distócicos, apresentando um intervalo entre partos de cerca de 420 dias, podendo variar em função dos factores ambientais. Dependendo da disponibilidade e qualidade de alimentos, assim se pode antecipar ou retardar o primeiro parto. Por exemplo, na presença de regimes alimentares adequados podemos ter vitelas a atingir a puberdade antes dos 16 meses o que torna possível a antecipação do primeiro parto em dois meses. Podemos dizer que em média a primeira cobrição se faz entre os 15 e os 18 meses, ocorrendo o primeiro parto entre os 24 e os 36 meses.
No que se refere aos touros, estes entram em reprodução aos 18 meses, podendo fazer-se a colheita de sémen a partir dos 16 meses, nos touros testados para o efeito.
De uma maneira geral esta raça possui bons parâmetros reprodutivos, apresentando mesmo potencial para a melhoria dos mesmos.
MODO DE EXPLORAÇÃO
Sendo a Barrosã uma raça bovina autóctone, que desde os primórdios se encontra intimamente ligada às populações rurais, fazendo parte da sua cultura, não é de estranhar o seu papel fundamental na nossa agricultura. Temos necessariamente de referir a sua importância na agricultura de montanha e de meia-encosta, onde só animais perfeitamente adaptados às condições peculiares desta envolvente, conseguem trabalhar terras de tão pequena dimensão, fazendo a fertilização das mesmas com o estrume que produzem, bem como valorizar os escassos recursos alimentares de que dispõem (carqueja, tojo).
Para a sua alimentação estes animais recorrem não só aos prados e lameiros, como também aos baldios. Recorre-se assim a forragens verdes e conservadas (erva, palha, feno e ás vezes silagem de milho), como suplemento utiliza-se o milho (em grão, traçado ou farinha), ainda o centeio e a batata.
Atendendo à existência de duas áreas distintas de produção da raça Barrosã podemos focar determinadas diferenças entre as duas como:
Minho – caracteriza-se por áreas pequenas na ordem dos 3 – 5 ha e dispersas, pequenos produtores com baixa escolaridade, efectivos com 2 a 3 cabeças por exploração, recorrendo ao posto de cobrição que serve toda a freguesia, estabulação dos animais em cortes e agricultura muito pouco mecanizada.
Barroso – encontramos explorações com alguma dimensão, com mais de 5 ha, contudo muito dispersas, muitos jovens agricultores, efectivos com cerca de 6,5 cabeças por exploração, utilizando o próprio touro para a cobrição das suas fêmeas e a agricultura é bastante mecanizada.
PRODUTOS E CERTIFICAÇÃO
A raça barrosã produz uma carne de excelência, a “Carne Barrosã”, como produto certificado com denominação de origem protegida (DOP), sendo o Agrupamento de Produtores de Carne Barrosã – DOP, sediado na Cooperativa Agrícola de Boticas, C.R.L (CAPOLIB) responsável pela gestão do uso da denominação de origem, certificando-se que só os produtores que cumprem as disposições do caderno de especificações o façam. Para ser considerada DOP, a carne tem de porvir de animais inscritos no Livro Geneológico da raça, terem nascido e sido criados na área geográfica delimitada para o efeito e alimentados à base de produtos naturais dessa região.
A Associação dos Criadores de Bovinos de Raça Barrosã (AMIBA) é responsável pelo registo dos animais no Livro Genealógico. A certificação está a cargo da uma entidade externa, a “SATIVA”.
A Associação dos Criadores de Bovinos de Raça Barrosã (AMIBA) foi criada no início dos anos noventa, para defesa da raça e protecção dos seus criadores. A gestão do Registo Zootécnico/ Livro Genealógico foi confiada à associação bem como o melhoramento animal da raça Barrosã.
O agrupamento de produtores surgiu em 2 de Julho de 1996 tendo-se iniciado a comercialização em Setembro do mesmo ano. Principiou-se pela zona norte mas actualmente a Carne Barrosã – DOP é comercializada em todo o país. A confraria gastronómica de Carne Barrosã foi fundada em 3 de Setembro de 2001.